Cidade privatizada: periferias de Beirute são ocupadas pela classe trabalhadora

27 anos após a Guerra Civil Libanesa (1975 – 1990), Beirute encontra-se como uma cidade de personalidades conflitantes. Uma noite de verão passeando pela recentemente finalizada Marina Zaitunay Bay, pode-se observar o embelezamento em curso da capital. O que, me matéria da revista GQ chama de "o destino escolhido para jovens e ricas crianças em todo o mundo", é agora salpicado com reluzentes arranha-céus revestidos de vidro, clubes noturnos, grupos de turistas estrangeiros e arquitetura de alto nível. Um yacht club projetado por Steven Holl fica a alguns minutos do Beirut Terraces de Herzog & de Meuron, um arranha-céu e condomínio de luxo com vista panorâmica à beira-mar em que o resort referencia-a como uma "praia urbana". No entanto, o desenvolvimento do centro da cidade tem gerado extremas consequências na periferia, como claramente mostrado neste ensaio fotográfico de Manuel Alvarez Diestro.

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© Manuel Alvarez Diestro

O centro da economia turística de Beirute parece estar pagando seu preço: o índice 2011 da MasterCard revelou que a "Paris do Oriente Médio" ocupava o segundo maior nível de gastos com visitantes em todo o território do Oriente Médio e África. Até seis anos atrás, o turismo trouxe uma enorme infusão anual de caixa anual de US$6,5 bilhões de dólares para a economia da cidade, e esse número tem crescido rapidamente. Esta é uma excelente notícia para o governo do Líbano, que alegremente apostou com a privatização do interesse em transformar rapidamente a imagem da cidade, afastada do terrorismo e conflitos.

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A Baía de Zaitunay e a série de projetos de resort que pontuam a propriedade à beira-mar de Beirute são criados pela Solidere - uma empresa imobiliária de capital semi-público, encarregada de reformular o distrito central de negócios da Beirute pós-guerra. Fundada pouco depois da guerra, em 1994, por Rafiq Hariri, o então primeiro ministro bilionário do Líbano, a Solidere possui extensos e eminentes privilégios de domínio que permitem-a construir, relocar e demolir o que quiserem.

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Enquanto o governo de Beirute descobria como vender a cidade a investidores estrangeiros, acabou por negligenciar seus habitantes. As leis desatualizadas da cidade sobre "aluguéis antigos", originalmente destinadas a proteger os habitantes mais pobres da cidade com o congelamento de aluguéis, têm ironicamente estimulado a renovação urbana. As rendas insustentavelmente baixas incentivam os proprietários a negligenciarem suas construções ou venderem voluntariamente a propriedade aos empreendedores. Com o aumento do valor do imóvel à beira-mar expulsando os bairros da classe trabalhadora em favor dos estabelecimentos de alta renda - um mercado de troca que nem sempre é lucrativo. Fora dos meses turísticos de pico, o centro da cidade, cada vez mais gentrificado, parece em grande parte morto, completamente fora do alcance de todos, com exceção dos moradores mais ricos.

© Manuel Alvarez Diestro

Tal priorização de lucro tem levado a terríveis consequências cívicas. No ano passado, um aterro sanitário com a capacidade esgotada encerrou a coleta de resíduos sólidos da cidade por meses, fazendo com que um pilha de lixo se acumulasse por toda a capital. A atual situação tem levado muitos cidadãos e refugiados a estabelecerem-se nas extremidades de Beirute e a residir nas comunidades vizinhas do Monte Líbano. Essas agitações não só deslocaram as populações da classe trabalhadora estabelecidas, como também incentivaram a fuga: quase metade da força de trabalho milenar educada do Líbano pretende emigrar.

© Manuel Alvarez Diestro

Infelizmente, a evolução de Beirute, desde uma capital uma vez igualitária a uma metrópole devastada pela guerra até a armadilha turística do Mediterrâneo, parece inevitável. O impulso para a privatização em massa dos poucos espaços públicos restantes de Beirute é um grande motor do êxodo da classe trabalhista. Praias e parques anteriormente públicos agora exigem uma taxa à entrada, criando um ar de exclusividade, tem desagradado os residentes.

© Manuel Alvarez Diestro

A luta para preservar a última praia pública da cidade, Ramlet el-Bayda, foi uma batalha perdida. As torres e o porto "estilo Dubai" do próximo Eden Bay Resort já iniciaram a construção. "Os cidadãos vêem isso como uma traição. A praia deve ser pública", diz Lama Khatib, estudante de arquitetura da Universidade Americana de Beirute. "A ambiguidade legal da costa permitiu que ela fosse totalmente privatizada... Esses resorts estão nos forçando a pagar pelo menos de US$20 a US$35 dólares para passar o dia em uma praia que sabemos que é nossa por direito".

© Manuel Alvarez Diestro

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Sobre este autor
Cita: Musca, Thomas. "Cidade privatizada: periferias de Beirute são ocupadas pela classe trabalhadora " [Spurred by Privatization, Beirut's Working Class is Colonizing the City's Periphery] 04 Dez 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Pereira, Matheus) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/884753/cidade-privatizada-periferias-de-beirute-ocupadas-pela-classe-trabalhadora> ISSN 0719-8906

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